Santa Ana Tríplice: uma imagem devocional do século XV em Tavira
Santa Ana Tríplice: uma imagem devocional do século XV em Tavira
No mês em que se assinala o dia dos Avós e dos Idosos (28 de julho), celebrado desde 2021 no quarto domingo de julho, o Museu Municipal de Tavira destaca a imagem de Santa Ana pertencente à ermida da mesma invocação. A data em questão é próxima à da celebração do dia de Santa Ana e São Joaquim (26 de julho), dia que anteriormente assinalava o Dia dos Avós.
A narrativa de Santa Ana e São Joaquim não está presente nos textos bíblicos canónicos, mas sim em escrituras apócrifas, como o Protoevangelho de Tiago e o Evangelho do Pseudo-Mateus. Estes documentos oferecem informações sobre os primeiros anos da vida da Virgem Maria e detalham a intervenção divina na gravidez de Santa Ana e na conceção da Virgem.
Estas histórias e a ligação à devoção à Virgem Maria ajudam-nos a compreender a profunda veneração dedicada a Santa Ana e São Joaquim, cujas raízes remontam à época medieval, inicialmente na Igreja Oriental e, posteriormente, no Ocidente. Em Tavira, a manifestação mais expressiva dessa devoção reside na ermida de Santa Ana, contudo, algumas imagens da santa testemunham a relevância dessa devoção na cidade ao longo dos séculos.
A Ermida de Santa Ana tem uma origem cuja data exata se perdeu no tempo. Uma das mais antigas menções a esta ermida surge na Visitação da Ordem de Santiago, em 1518, refere que as origens do templo eram tão antigas que já não havia memória delas. Nesse mesmo documento, a imagem de Santa Ana é descrita como “uma imagem de Santa Ana com Nossa Senhora e seu filho no colo”, uma descrição que se mantém válida até hoje.
Colocada no retábulo principal da ermida de Santa Ana de Tavira, esta imagem em madeira data do século XV.
Santa Ana é representada em pé, de corpo inteiro, segurando na mão esquerda a figura de Maria, com o Menino Jesus nos braços desta. Esta representação, conhecida como Santa Ana Tríplice ou Trinitária, destaca o papel de Ana como avó, diretamente relacionada às figuras Nossa Senhora e de Jesus, enfatizando mais o valor simbólico do que o realismo da escultura. De tradição mais antiga, esta forma de representação contrasta com as imagens dos séculos seguintes, nas quais Santa Ana aparece como mãe e mestra de Maria, segurando um livro, simbolizando assim o seu papel educativo e, por extensão, o das mães na sociedade do Antigo Regime, responsáveis pela transmissão dos ensinamentos cristãos aos filhos nos seus primeiros anos de vida.
(Museu Municipal de Tavira, MMT2597)