A “felicidade” gravada em cerâmica: uma pia de abluções do período islâmico
No mês em que se assinala o Dia Internacional da Arte Islâmica (a 18 de novembro), o Museu Municipal de Tavira destaca como peça do mês um magnífico fragmento de cerâmica vidrada do período islâmico, decorado com motivos executados segundo a técnica da corda-seca.
Esta peça, datável da 2ª metade do século XII ou da 1ª metade do século XIII, foi descoberta em contexto arqueológico islâmico, no âmbito de escavações empreendidas na antiga Pensão Castelo (no perímetro intramuros de Tavira). Através do estabelecimento de paralelos formais com outras peças conhecidas, acredita-se que se tratará de um fragmento do bordo de uma pia de abluções, recipiente que se destinava a conter água limpa e que, no mundo islâmico, se colocava à entrada dos espaços sagrados (mesquita ou oratório) para permitir o ritual de purificação obrigatório antes das orações (que incluía a lavagem das mãos, pés e cara).
Com cerca de 40 cm de altura, pasta compacta e de cor clara, este fragmento apresenta naquilo que seria a face exterior elementos de natureza epigráfica e fitomórfica (inspirados em formas vegetais), incluindo a representação do termo al-yumn (a felicidade), em escrita cursiva e em tons de castanho-mel, e motivos de carácter vegetalista, em tons de verde.
Esta peça foi revestida com uma capa de vidro, técnica que tinha como objetivo a impermeabilização da peça, protegendo-a contra a deterioração e facilitando a sua limpeza. Na produção da mesma foi também utilizada a técnica da corda-seca, que consiste em realizar desenhos a pincel, com óxidos de ferro ou manganês, misturados com gordura. Durante a cozedura, o óxido e o manganês transformam-se numa espécie de cinza que impede que os diferentes óxidos se misturem.
Este fragmento não só constitui um interessante testemunho do quotidiano da Tavira islâmica, como também nos permite conhecer algumas das técnicas e motivos decorativos característicos da arte produzida no mundo islâmico em contexto medieval.
Museu Municipal de Tavira, MMT292
Fotografia: António Cunha