Um Gato à Mesa: um paliteiro de faiança

     No mês em que internacionalmente se assinala o Dia Mundial do Gato (17 de fevereiro), o Museu Municipal de Tavira partilha um curioso paliteiro datável de finais do século XIX, com a forma do mais popular dos felinos.

     De dimensões reduzidas, este antigo paliteiro tem cerca de 9,5 centímetros de altura e uns 7 centímetros de largura máxima. Trata-se de uma peça executada em faiança, isto é, em cerâmica que foi objeto de um primeiro cozimento, depois pintada, recoberta com um vidrado de chumbo e novamente levada a cozer. Para além de aumentar a resistência das peças, tornando-as impermeáveis, o recurso à técnica do vidrado, cuja aplicação em território nacional se consegue documentar pelo menos desde o período medieval, garantia o característico acabamento vítreo, brilhante e colorido, que podemos observar neste paliteiro.

     Destinados à mesa da refeição, os paliteiros dispunham de orifícios circulares destinados a receber os palitos, pequenas hastes de madeira, osso ou metal (incluindo prata) que os comensais retiravam e usavam para limpar os espaços entre os dentes ou mesmo para levar à boca pequenos alimentos.

     Regra geral, os paliteiros tinham uma função utilitária e também decorativa. Com formas variadas, que podiam incluir representações de temática antropomórfica, zoomórfica, fitomórfica e até arquitetónica, os paliteiros podiam assumir dimensões consideráveis e formatos elaborados. Dependendo do poder económico e estatuto do seu proprietário, os paliteiros podiam ser executados em materiais tais como cerâmica, faiança ou porcelana, mas também em matérias mais nobres, incluindo prata e ouro. Inicialmente peças exclusivas das casas mais abastadas, vistos como um pequeno luxo ou extravagância, os paliteiros foram gradualmente ganhando espaço na mesa das famílias de condição mais modesta, sobretudo a partir do momento em que começam a ser fabricados de modo industrial (o que faz com que sejam vendidos por preços mais acessíveis).

     Este paliteiro apresenta a forma de um gato doméstico. O animal foi representado em repouso, sentado sobre as patas traseiras. As feições são estilizadas, até um pouco rudes, e marcadas pelos inconfundíveis bigodes felinos. O animal exibe uma coleira com três guizos dourados e sua cauda curva-se elegantemente ao longo da pata traseira direita. A figura assenta sobre uma base circular escalonada e apresenta, ao longo do dorso, uma série de orifícios alinhados destinados aos palitos.

     Em termos cromáticos, predomina o verde como cor base, sobre a qual foram aplicadas manchas castanhas e pretas que reproduzem a pelagem do felino, criando interessantes nuances de cor.

     Embora não apresente marca de fabrico, as características formais desta peça sugerem que terá sido produzida nas Caldas da Rainha, importante centro de produção de faiança portuguesa (a par de Coimbra, Viana do Castelo ou Vila Nova de Gaia), algures no final do século XIX ou nos primeiros anos do século XX.

     Em termos formais, este exemplar apresenta muitas semelhanças com outro paliteiro produzido na fábrica de Manuel Mafra (1829-1905), nas Caldas da Rainha, nos finais do século XIX. O modo como os gatos foram representados, sentados, com as coleiras munidas de guizos e as caudas curvadas para cima, ao longo da pata traseira, comprovam que estamos perante peças que seguem um modelo comum (ainda que possam ter sido produzidas em fábricas distintas). 

     Esta peça integra o espólio doado ao Museu Municipal, em 2004, por José de Mendonça Furtado Januário, popularmente conhecido como Zézinho de Beja, e representa um interessante testemunho da arte popular portuguesa e das transformações sociais na transição para a contemporaneidade.

     (Museu Municipal de Tavira, MMT2101)

Altura: 
95mm
Largura: 
70mm
Proveniência: 
José de Mendonça Furtado Januário, popularmente conhecido como Zézinho de Beja
Século: 
Século XIX - XX
Localização: