Azulejos da Escola do Arraial Ferreira Neto: Uma Tradição Reinventada no Século XX
Por ocasião das comemorações do Dia Nacional do Azulejo, o Museu Municipal de Tavira destaca, neste mês, os azulejos da antiga escola do Arraial Ferreira Neto. Estes exemplares foram recuperados durante as obras de reabilitação do antigo arraial, construído na década de 1940 para servir de residência aos pescadores, incluindo diversos edifícios, como a igreja e a escola. Os azulejos que decoravam as paredes desta última integram hoje a coleção do Museu.
Uma herança com inovação
Estes azulejos pertencem à tipologia conhecida como "figura avulsa", uma tradição da azulejaria portuguesa com expressão marcante nos séculos XVII e XVIII. Esta tipologia caracteriza-se por apresentar decoração individual em cada azulejo, frequentemente ornamentado com motivos de fauna e flora, mas também com outros elementos figurativos.
Contudo, os exemplares do Arraial Ferreira Neto introduzem variações que os distinguem relativamente àquela tradição. A primeira variação é a policromia, que contrasta com a tradicional monocromia azul sobre branco dos séculos anteriores. A segunda prende-se com a composição: se no período barroco predominava o princípio do "horror ao vazio", que levava ao preenchimento integral das superfícies, neste conjunto observa-se uma alternância entre azulejos decorados e azulejos em branco, criando uma dinâmica visual mais consonante com os valores estéticos do século XX.
Tradição e modernidade na produção
Igualmente interessante é a forma de produção e pintura, que conjuga técnicas tradicionais e modernas. Produzidos pela prestigiada Fábrica Viúva Lamego, uma das mais importantes da cerâmica portuguesa, ainda hoje em funcionamento, estes azulejos, datados da década de 1940, recorrem tanto à técnica da estampilha (característica dos séculos XIX e XX, marcada pela utilização de papel encerado recortado consoante a forma pretendida) como à pintura manual tradicional. Curiosamente, estes modelos continuam disponíveis no catálogo atual da fábrica, atestando a sua qualidade duradoura.
Um painel de vida e cor
Enquanto painel, os azulejos eram emoldurados no topo e na base por um friso de padrão florido, e dispostos de forma intercalada, alternando azulejos figurativos com azulejos em branco. Na sua decoração de fauna e flora, destacam-se flores estilizadas e diversos animais pintados de forma "naïf": cães, cabras, borboletas e veados, entre outros. Há ainda representações de barcos, de um castelo e até de figuração humana, criando um verdadeiro mosaico da natureza e do quotidiano.
Mais um exemplar deste património tão português, de que não faltam exemplos de qualidade na cidade de Tavira.
Museu Municipal de Tavira, MMT3499.