Virgem do Carmo: Uma Pintura Setecentista Revela os seus Segredos

     No mês em que o calendário litúrgico assinala a Festa anual em honra de Nossa Senhora do Carmo, celebrando a aparição da Virgem a São Simão Stock, a 16 de julho de 1251, em Cambridge (Inglaterra), o Museu Municipal de Tavira partilha um pequeno óleo sobre tela com representação daquela que é a figura principal do Panteão carmelita, uma peça datável de finais do século XVIII.

     A peça em destaque é, como se disse, um óleo sobre tela, com cerca de 40 cm de largura e 48 cm de altura. Esta tela esteve colocada dentro de uma moldura de madeira, decorada com pinturas marmoreadas, munida de uma argola de suspensão no topo (sugerindo que se destinava a ser pendurada na parede). Numa primeira análise chegou a pensar-se que esta pintura poderia ser um fragmento de uma tela de maiores dimensões, entretanto desaparecida, mas o facto de existir tela crua (isto é, sem a aplicação de pigmento) no limite da figuração sugere que a mancha cromática não se prolongava, o que desaconselha essa hipótese.

     A composição é dominada pelo busto de uma figura feminina, Nossa Senhora do Carmo, pintado sobre um fundo negro, compacto, de modo a reforçar a luminosidade da figura representada. A Virgem exibe cabelos soltos, longos, ondulados e de cor castanha, que lhe descem pelas costas e se prolongam em madeixas pelos ombros. Com pescoço longo e elegante, faces rosadas e lábios matizados de carmim, a figura inclina a cabeça para a direita e dirige o olhar para baixo. Este é o tipo de figuração que geralmente se observa nas representações de Nossa Senhora do Carmo a entregar o escapulário a São Simão Stock, com a Virgem a direcionar o olhar na direção do Santo, que se ajoelha a seus pés, o que torna até admissível a hipótese de podermos estar perante a reprodução de um pormenor de uma pintura de maiores dimensões e mais complexa do ponto de vista compositivo.

     Na cabeça não apresenta coroa, como é habitual ver-se nas imagens de vulto desta invocação mariana, sendo a sua condição divina apenas denunciada por uma aura de luz esbranquiçada que lhe circunda a cabeça. A ausência de touca ou de véu, peças que obrigatoriamente integram o hábito das religiosas da Ordem, comprova que não se trata de uma qualquer Santa do Panteão carmelita, mas da própria Virgem do Carmo.

     A Virgem enverga o característico hábito dos carmelitas, nomeadamente o manto branco, neste caso complementado com uma gola debruada com delicados enrolamentos acânticos, em dourado. Por baixo do manto descobre-se uma túnica, de castanho-escuro, na qual foi representado, ao centro, em posição de destaque, um escudo, coroado e envolvido por moldura de enrolamentos dourados, no interior do qual estão as características armas do Ramo dos carmelitas Descalços: sobre fundo branco, um monte rematado por uma cruz e ladeado por três estrelas. Simbolicamente, os elementos representados nestas armas pretendem evocar o Monte Carmelo (em Israel), local de origem da Ordem do Carmo, e aquelas que são as três principais figuras do culto carmelita: a Virgem do Carmo, o profeta Elias e o profeta Eliseu.

     No concelho de Tavira, o culto de Nossa Senhora do Carmo torna-se particularmente popular a partir das primeiras décadas do século XVIII, período em que na cidade se constitui a Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo (1714), irmandade que vai construir a magnífica igreja privativa dos Terceiros do Carmo (a partir de 1747) e auxiliar a fundação de um convento de Padres carmelitas (extinto em 1834).

     Esta peça integra o espólio que no ano de 2004 foi doado ao Museu Municipal pelo benemérito José de Mendonça Furtado Januário (popularmente conhecido como Zezinho de Beja), desconhecendo-se o contexto geográfico em que terá sido produzida.

     (Museu Municipal de Tavira, MMT2975)”

 

 

Altura: 
480mm
Largura: 
400mm
Proveniência: 
José de Mendonça Furtado Januário, popularmente conhecido como Zézinho de Beja
Materiais: 
Século: 
Século XVIII
Localização: