Palácio de Espanto, em torno da Coleção da CGD | exposição

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Mais de dois séculos depois da fundação dos primeiros museus modernos - filhos do iluminismo europeu e das suas aspirações quanto à educação e ao esclarecimento geral da população - as instituições que hoje frequentamos continuam a ser, em grande medida, devedoras dessa ideia de que o museu é, sobretudo, um lugar de aprendizagem. Desde cedo, fomos ensinados a entrar no museu como quem vai aprender, a encará-lo como uma extensão da escola e a olhar as obras de arte como objetos portadores de um significado preciso mesmo que ele nos escape. Tempos houve em que os objetos artísticos se afirmavam não pelo seu eventual pendor comunicativo/educativo, mas pelo poder que as comunidades lhes atribuíam e lhes reconheciam. Esses não eram apenas os tempos em que se acreditava na magia, na alquimia ou no sobrenatural; eram também os tempos em que os objetos artísticos eram parte dos rituais quotidianos das sociedades, em que as obras habitavam os espaços comuns e marcavam o ritmo dos dias, em que a arte era o ligamento da comunidade. 

Palácio de Espanto é a primeira de uma série de três exposições que se propõem recuperar os traços perdidos desse tipo de experiência nas artes visuais. Para tal, estas exposições desenham o encontro entre as três idades da arte: o seu passado - através da incorporação na exposição de objetos provenientes dos museus de antropologia, etnologia ou arqueologia das regiões que as acolhem (a saber, Tavira, Bragança e Castelo Branco) - o seu presente - através de uma seleção de obras da Coleção Caixa Geral de Depósitos - e o seu futuro - por intermédio do convite dirigido a três jovens artistas portugueses para produzirem obras para este contexto específico. Desta teia de encontros esperamos ver despontar o espaço de uma relação menos regulada e predeterminada com os objetos artísticos, esperamos encontrar lugar para a experiência do ambíguo e do inominável, o território onírico onde seja possível recuperar a centelha antiga da surpresa e da pulsão, a matéria de que é feita a expressão confusa, rara e irredutível de um espanto.

Nas palavras de Sérgio Carronha, o artista convidado desta exposição, o seu “processo criativo está intimamente ligado à experiência solitária de caminhar na Natureza”. Aí encontra algo que lhe é superior e lhe causa um arrebatamento poético; os objetos que produz, provas únicas desta verdade, substituem a experiência desses lugares.

Obras de Ana Jotta, José Pedro Croft, Ângelo de Sousa, Waltercio Caldas, José Loureiro, Fernando Calhau, Rui Chafes, Noronha da Costa, Pedro Sousa Vieira, Pedro Cabrita Reis, Michael Biberstein, Alberto Carneiro e Francisco Tropa. Artefactos dos espólios de Arqueologia e Antropologia do Museu Municipal de Tavira. Artista convidado: Sérgio Carronha. 

Palácio da Galeria
Sáb, 14/05/2016 até Sáb, 01/10/2016