A luz, rasante, pinta com um tom quente, mas doce, as paredes pintadas de infinitos tons de azuis… azuis múltiplos, subtis, acolhedores, por vezes oceânicos, nas casas das ruelas, labirintos luminosos onde nos perdemos de nós, noutra identidade, noutra cultura que também é a nossa… Chaouen é uma cidade santa, das mais bonitas do Riff marroquino. De uma simplicidade absoluta, sem um mínimo de ostentação, Chaouen convida-nos a sentir o próprio prazer de existir, concentrando-nos naquilo que é essencial… fazendo-nos sentir leves, tranquilos, espirituais.
Ninguém diria que esta cidade maravilhosa, foi fundada por Moulay Ali bem Rachid, em 1471, com o intuito de servir de ponto de partida para os seus ataques contra os portugueses em Ceuta… a nossa história comum de lutas e batalhas poderá transformar-se hoje numa outra história de encontros culturais, de confluência de sentidos de estar e agir… em paz.
Para percorrer a sua Medina encontrámos de imediato o guia Abdel, que ficou entusiasmado por sermos portugueses, revelando bons conhecimentos sobre o trabalho arqueológico e cultural, de pesquisa sobre as nossas origens árabes, realizado no sul de Portugal.
Encontrar um bom guia é como encontrar uma outra alma, vagueando noutra identidade como se fosse nossa… este fenómeno de compreensão empática desagua num encontro cultural fusional: comunicamos para nos procurarmos uns dos outros, em novas descobertas do fruir…
Talvez por isso esta exposição fotográfica procure os múltiplos brancos e azuis sensíveis e serenos das casas… procure as portas azuladas, quase sempre entreabertas, convite à partilha do mais secreto mistério: a intimidade do lar, onde repousa o ser no seu simples labirinto. Talvez se consiga perceber, através destas fotos, que quem habita este local santo é acolhedor, afável e terno, branco puro com muitos gradientes azuis de espiritualidade celeste.
Cabrita Nascimento