Um cavaleiro medieval

     No mês em que se assinala o Dia Internacional do Cavalo, o Museu Municipal partilha um invulgar adorno medieval em cobre, com vestígios de douramento e da aplicação de esmaltes coloridos, que originalmente terá ornamentado os arreios de um cavalo e que, para além disso, inclui uma representação artística desse extraordinário animal. A peça em destaque, que foi descoberta no âmbito das escavações arqueológicas levadas a cabo no topo da colina de Santa Maria, no coração da Tavira medieval, será datável do período compreendido entre o século XIII e o século XIV. 

     Com 10 cm de comprimento e uns 3 cm de largura máxima, este pequeno adorno é constituído por um elemento alongado que na extremidade inferior apresenta um gancho rematado por uma cabeça de formato zoomórfico e a meio exibe um medalhão cuja moldura assume a característica forma de um quadrado inscrito num círculo (ou vice-versa). No interior do medalhão foi gravada a figura de um homem, montado sobre o dorso de um cavalo. Este homem (que na face exibe traços que configuram uma barba) ergue ambos os braços e empunha nas mãos elementos não identificados. Na mão direita segura um objeto comprido e estreito (lança ou espada) e na esquerda outro objeto alongado, neste caso rematado por elemento esférico. Sobre a cabeça ostenta um objeto com forma de losango (porventura uma coroa). O cavalo está em movimento, o que é sugerido pela posição das patas. Na perspetiva do observador, à esquerda identificam-se as patas traseiras e a cauda do animal, enquanto na extremidade oposta foi representado o pescoço e a cabeça, estando esta virada para trás e para baixo (no que será uma solução para conter a representação dentro do espaço disponível). Em termos de composição, não será descabido lembrar a proximidade desta figura à representação régia que surge no chamado morabitino, moeda em ouro da 1ª Dinastia (cunhada a partir do século XII) em que numa das faces o monarca português se fez representar sobre um cavalo em movimento, empunhando na mão direita uma espada e na outra um cetro rematado por uma cruz.

     A peça em destaque apresenta dois orifícios, imediatamente acima e abaixo do referido medalhão, que serviriam para fixar este elemento a outro suporte, provavelmente a uma tira ou cinto de couro, ou porventura à sela, através de pregos ou tachas. Em relação à função da peça, tampouco se pode afastar a hipótese de se tratar de um gancho que se podia fixar no cinto para nele se suspender a bainha da espada. Independentemente da sua função exata, o tipo de materiais usados na sua produção e a iconografia nela representada, sugerem que esta peça, com carácter ornamental, terá de ter pertencido a alguma figura com um poder económico e estatuto acima da média.

     Em termos materiais, um dos aspetos mais interessantes desta peça será o facto de o medalhão apresentar vestígios da aplicação de pastas de esmalte vitrificado polícromo no interior dos sulcos que definem os contornos das figuras (a vermelho) e no respetivo pano de fundo (a azul), recorrendo à aplicação de uma técnica artística que se designa como cloisonné. Em contexto medieval, a produção europeia destas peças em cloisonné esteve sobretudo concentrada no sudoeste da França (Limoges) e no norte da Península Ibérica, atingindo o seu período áureo ao longo dos séculos XII e XIII.

    (Museu Municipal de Tavira, M390)

 

Largura: 
30mm
Comprimento: 
100mm
Proveniência: 
Colina de Santa Maria
Materiais: 
Século: 
Século XIII e século XIV
Localização: