Caixa “Deliciosa Passa de Figo do Algarve”
Prestando homenagem a um dos frutos mais característicos do imaginário algarvio - o figo - o Museu Municipal de Tavira divulga uma antiga caixa publicitária para exportação de passa de figo produzida na cidade nas primeiras décadas do século XX (c.1920-1930).
Com cerca de 22 centímetros de comprimento e 15 centímetros de largura, esta caixa de formato paralelepipédico é feita de madeira de pinho e apresenta a tampa decorada com uma colorida litografia sobre papel, na qual se fez representar uma jovem que equilibra na cabeça uma canastra repleta de figos e segura na mão um cesto, também com figos. A figura é enquadrada por vegetação frondosa, vendo-se ao fundo o que parece ser um espelho de água, e enverga uma camisa branca de quadrados, saia comprida, vermelha, e uma faixa de tecido azul à cintura. Na cabeça usa um lenço vermelho, aberto, e das orelhas pendem-lhe arrecadas de ouro. Esta figura não apresenta o caraterístico “tipo” feminino algarvio, porque o modelo que lhe serviu de inspiração é o de uma litografia representando uma varina, que circula em Portugal nos finais do século XIX.
Cada uma destas caixas terá transportado uma média de 35 figos flor, designação que se atribuía ao fruto com um peso superior a 16 gramas e que não apresentava qualquer sinal de mácula (mancha, pisadura ou defeito). Sabemos, portanto, que esta caixa conteve um produto de qualidade superior, preço elevado e preferencialmente destinado à exportação. Para além do figo flor, o fruto de maior qualidade, existiam ainda os figos meia-flor, de comadre, de mercador, branco e de caldeira, designações que eram atribuídas com base no peso do fruto e no aspeto da sua superfície.
Para produzir figos em passa, como os que se transportaram nesta caixa, os frutos tinham de ser colhidos e secos ao sol, sobre esteiras, até ficarem passados, o que acontecia quando deixavam de se fender ao serem apertados entre os dedos. Depois os figos passavam ainda pelas tulhas e, finalmente, eram calcados e cuidadosamente enfileirados no interior de uma caixa de transporte, forrada com papel rendilhado. Neste caso temos ainda a indicação de que o figo havia sido “esterilizado”, ou seja, submetido a um processo em que se recorria a uma câmara de fumigação (ou de expurgo) para garantir a conservação dos frutos por um período mais alargado.
Segundo a informação que consta da própria caixa, peça que julgamos datável da década de 20 ou 30 do século passado, a passa de figo que se exportava nestas caixas era produzida numa pequena unidade industrial estabelecida nos números 13 a 17 do Terreiro do Garção (nas proximidades da Corredoura), em plena cidade, propriedade de Rocha Júnior.
(Museu Municipal de Tavira, MMT4361)